''''''''''''''''''''''''''''''''''''o pussylânime''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''

sábado, 23 de outubro de 2010

Resistir

Em um mundo onde a liberdade taí... taí... Resistir pra que???  E a que??
Resistir a coisificação do indivíduo e a individualização das coisas...
Resistir ao arrastão global; ao mainstream, ao mise en scène, ao sine qua non, ao ipsi líteris.
Resistência maior é sinal de aumento de tensão, já que a corrente permanece quase que constante; quem V=RI.
Resistência a só ter Skol ou Brahma no bar; pedra ou pó na boca; Dilma ou Serra no país,  motorista/cobrador ou passageiro na vida.
Resistir, mesmo que seja só pra ser chato, gauche, bizarro e digno de dó.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Laerte é o cara

De toda essa geração de cartunistas que surgiu com ele: Angeli, Glauco, Caco Galhardo, Fernado Gonzales, Adão, Luis Gê, etc; acho Laerte o melhor!! Dono de um senso de humor acído/refinado e de personagens toscos o suficiente para nos identificarmos, Laerte é mestre não apenas das tiras, mas de histórias maiores. O livro Histórias Repentinas (http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=3085776&sid=87908110612924784179292860&k5=27BDECF7&uid=), por exemplo, Laerte destila toda sua criatividade e humor em histórias fantastícas, bizarras e reais ao mesmo tempo. Um de meus contos (Dr. Oswaldo) foi livremente baseado em uma das histórias desse livro. No mais, algumas tirinhas:


sábado, 2 de outubro de 2010

ZÉ - CONTO Nº 18 - LOUCURAS INCONTÁVEIS







                             Zé mal completara doze anos e os jornais estampam crises e violências. Zé sente o cheiro da carniça, mas parece só poder torcer o nariz. Ele acorda preocupado; um circo de horrores o cerca. E então, quando a maldade se instaura de um modo tão grudento e incisivo; eis que Zé manda tudo se fuder e se senta ao pé de um pé de azeitonas e toca um violão imaginário, com acordes inacreditavelmente soltos e harmoniosos.
                             Zé compreende o revanchismo, mas acha muito incoerente. Zé sonha em morar num campo verde e renascentista. Ele vê as sombras das escarpas formarem vários tons esverdeados pela paisagem. Zé escuta a verdade em tom de ofensa; e percebe-se que neste instante é acionado nele um alarme, e seu íntimo é forçado a dizer:- e daí?-. Já a mentira, Zé escuta em tom de brincadeira e ri até embolar no chão.
                             Zé se move, e remove pedras com chutes certeiros; mas eis que altos tropeços pegam-lhe pelo caminho. E Zé se ira, mas... passa logo. Zé não esconde de ninguém que pretende ser índio. Zé adora índios. Zé é fã de índio. Zé conspira para um dia poder cagar e não limpar a bunda. Ele investe pesado num insólito desejo de vomitar em cima de todas as tradições. Zé não sabe, mas é impelido a tender para um lado; ele se diz, em cima do muro. Pobre Zé! Em cima do muro não deixa de ser um lado. E é o Zé na área, se derrubar é pênalti e cartão vermelho.
                             Zé acredita que poderia viver só numa ilha deserta, sem nada além de comida, água e mulher; mas não teria muita idéia do que viria a acontecer com ele, a ponto de se transformar em outro Zé. Que a propósito é 100% mutação constante e semi (in) consciente. Zé propõe zerar a cabeça do povo, com uma lavagem cerebral em massa, depois é só educa-los do zero, do nada. Ele não sabe se alguém poderia chegar a ponto de negar a reeducação, e então surgir um novo pensamento, e aí contaminar o resto e, portanto, seria um surgimento de uma rebelião contra o modelo inicial que Zé criou e ajudou a pôr em prática. Que tanta complicação. Zé esquece, então.
                             Zé, às vezes, chora, porque é muito empurrão, pra lá e pra cá até umas horas, e Zé nem sempre sabe onde se encaixa. Cada um que diga:- É por aqui- - Vai por ali. -   Mas esse Zé é um danado; manda tudo as favas, escapoli e vai nadar no laguinho até esquecerem dele. Só que a cada vez, parece que essa saída vem se tornando mais manjada. Zé sabe disso, mas nem se dá conta de que sabe. Porém, Zé teme que, se tudo que haviam previsto sobre ele se realizou, então tudo que dizem agora, tende a acontecer também. Zé pensa: “Caramba!” Zé pensa em mulher. Zé esquece o porquê do: “Caramba!” Zé só pensa em mulher.
                             Zé, Zé; te orienta que tu não és mais menino. Zé, Zé; tá achando que já é homem é? Tem que comer muito feijão ainda, seu alma. E esse é o Zé. As manchetes pipocam, Zé sente; mas também sente que progressivamente e inevitavelmente, Zé vai sentido cada vez menos. E Zé teme. E esse temor também vai sumido, e dando lugar a uma força cega, surda e muda; e Zé não sabe o que é; mas ela é forte, e Zé gosta. E na mesma medida que Zé menos sente e menos teme perder o sentir, essa força cresce, cresce junto com Zé; enquanto as manchetes pipocam.
                             Mas, e vomitar nas tradições? Cagar e não limpar a bunda? O índio? E a mutação constante? E o laguinho? A ilha? E o campo verde? O pé de azeitonas? E agora Zé José? Agora boy, nada disso cabe no teu futuro. Troque seus brinquedos, mude seu jeito de ouvir e de dizer verdades e mentiras. Zé meu filho, acredite, eu não falei? É para o seu bem. Por acaso já lhe disse algo para te prejudicar?
                             E Zé se acha, ou não se acha no vazio; num vazio repleto de coisas, ou só de nada. E Zé pensa que só pode estar errado. Afinal, são seis bilhões contra um. Só pode estar errado. E é a partir daí que as manchetes estampam crises e violência e Zé só consegue sentir cheiro de pipoca de microondas.